
Joana C.
Ferenczi - inquietações clínico políticas
Atualizado: 21 de jan. de 2021
Entre os discípulos de Freud, o húngaro Sándor Ferenczi ocupou lugar de
destaque entre os pioneiros da psicanálise. Na organização do movimento
psicanalítico, fez parte do grupo de discípulos escolhido por Freud, para trabalhar no
processo de descentralização da psicanálise de Viena, levando-a para o restante da
Europa e ao continente americano. Sua relação com Feud era de intimidade, foi seu
analisando, e de proximidade familiar.
Uma forma de conhecer o pensamento e as contribuições de Ferenczi para a
Psicanálise, talvez seja a leitura da Correspondência entre ele e Freud. Ali é possível ter
uma ideia da sua importância na criação da Psicanálise. Apesar disso, sua morte foi
cercada de dúvidas quanto ao seu desequilíbrio emocional e sua reputação clínica.
Um dos motivos, foram as declarações de Ernest Jones na biografia de Freud.
Ele relata que os últimos anos de vida de Ferenczi teriam se passado em um estado
mental de características psicóticas, e, portanto, seus desenvolvimentos teóricos
deveriam ser questionados. Sabe-se que Jones foi analisando de Ferenczi, após ter
recebido uma recusa de Freud para analisá-lo, e é preciso levar em conta então, todos
os atravessamentos presentes. Também é difícil crer que somente Jones teria o poder
de desacreditá-lo publicamente. Mas talvez toda uma postura defensiva do mundo
psicanalítico, provocada pela postura e pensamento de Ferenczi. A correspondência
mostra suas ideias na interlocução com Freud, e o apoio e admiração deste por
Ferenczi.
Outra forma de conhecer a relevância dos conceitos por ele propostos, tanto
quanto a técnica, quanto em relação a pessoa do analista se encontra na obra Ferenczi:
Inquietações Clínico – Políticas, resultado do trabalho que vem sendo desenvolvido
pelo Grupo Brasileiro de Pesquisas Sándor Ferenczi. O grupo fez também, durante o
ano de 2020, uma série de encontros on-line, de excelente qualidade e que podem ser
conferido no youtube.
O livro está dividido em duas partes. Na primeira delas nomeada “Ensaios”
vemos alguns conceitos caros a Ferenczi sendo trabalhados pelos autores: confusão de
línguas, a questão do trauma, introjeção e identificação com o agressor. Conceitos
trabalhados a partir da clínica e, para a clínica. Ainda encontramos temas da cultura
como racismo e normatividade, discutidos a luz das concepções de ferenczianas.
A segunda parte intitulada “Leituras” apresenta artigos escritos a partir de
alguns ensaios, por nomes como Renato Mezan, Paula Peron e Regina Herzog entre
outros. E que mostram o potencial das ideias de Ferenczi para “pensarmos tanto os
desafios da clínica psicanalítica na atualidade, quanto o impacto do traumático na
nossa vida social” (Daniel Kupermann).
Andréa Mongeló - Psicanalista
